🔹Mês de Combate à Alienação Parental: formas de exercer a parentalidade podem evitar a prática

Educar com equilíbrio e considerar as crianças como indivíduos em desenvolvimento é um dos princípios da Parentalidade Positiva. Criada a partir da Disciplina Positiva, tal filosofia pode evitar a Alienação Parental e será um dos temas discutidos ao longo deste mês por especialistas do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, em referência ao Dia Internacional de Combate à Alienação Parental, celebrado em 25 de abril.

No contexto da Parentalidade Positiva, os genitores exercem responsabilidade parental a partir da gentileza e da firmeza, transmitindo aos filhos uma educação com base no respeito e no encorajamento. Trata-se de uma filosofia que rejeita tanto a punição quanto a permissividade e pressupõe que a criança pode ter autonomia e participar da tomada de algumas decisões.

“Isso significa educar filhos sem perder a necessidade de conferir limites. Disciplinar e manter a ordem, mas fazer isso sem excessos, de forma afetuosa, respeitando a condição de sujeito de direitos da própria criança ou adolescente. É entender e respeitar que os filhos podem ter assegurado determinado grau de autonomia, e podem até ser ouvidos nas tomadas de decisões”, explica a professora Bruna Barbieri Waquim, membro do IBDFAM.

Ela observa que a filosofia proporciona aos pais a oportunidade de enxergar a criança e o adolescente como pessoas em desenvolvimento que precisam de ajuda para aprenderem a regular as emoções.

“Nesse cenário, devemos, por exemplo, olhar a ‘birra’ e o ‘mau comportamento’ da criança de forma mais racional e afetuosa. Geralmente, eles representam formas de comunicação daquele indivíduo que ainda não é maduro o suficiente para processar seus sentimentos. Em casos como esse, a Parentalidade Positiva ensina a investigar para, a partir daí, validar o sentimento da criança e oferecer alternativas. O ideal é ajudar a criança a nomear o sentimento, distraí-la e permitir uma opção”, afirma.

Genitores imperfeitos

Outro aspecto importante da Parentalidade Positiva é a noção de que os genitores não são e nem precisam ser perfeitos. Aliás, é importante que eles mesmos reconheçam seus erros e ensinem aos filhos o valor do perdão e do recomeço.

Bruna Barbieri defende que um dos principais benefícios da Parentalidade Positiva é capacitar genitores e familiares a entender o funcionamento do cérebro da criança, as etapas do seu desenvolvimento biopsicossocial e cognitivo.

“Quando entendemos e respeitamos o processo de maturação daquele pequeno ser, passamos a cultivar mais paciência, tolerância, respeito e compreendemos o que pode ou não ser exigido, e o que deve ser estimulado”, pontua.

“Em segundo plano, vejo a qualidade do vínculo que é formado entre genitores e filhos, poupando os pequeninos de traumas e feridas emocionais. Há muita microviolência disfarçada de “‘disciplina’ e ‘autoridade’ no espaço da família, como o uso de críticas, punições, palavras desabonadoras, ameaças, conflitos de lealdade, e isso fragiliza o vínculo afetivo entre cuidadores e crianças, além de prejudicar a formação da sua própria personalidade”, aponta.

Segundo ela, a filosofia também ensina às crianças noções de responsabilidade, seja consigo, com seus pais, com a comunidade, desenvolvendo sua “capacidade de pensar em soluções sempre que os problemas se apresentem – e é normal que existam problemas”.

Um dos problemas que podem aparecer é a Alienação Parental, caso em que um dos genitores tenta destruir a figura do outro como forma de obter a guarda dos filhos. Essa destruição pode chegar ao ponto de o filho “não desejar” estar na companhia do genitor alienado.

Uma forma de violência

Bruna Barbieri Waquim define a Alienação Parental como uma “violência intrafamiliar”, ou seja,  uma violência que acontece dentro de casa e geralmente é praticada por um membro da família que convive com a vítima. Para ela, a Parentalidade Positiva é uma saída para evitar a prática, na medida em que “instaura uma cultura de parentalidade saudável, sem excessos e arbitrariedades, sem autoritarismo, e sem transformar os filhos em moedas de troca, em armas e muito menos em espólios de guerra no divórcio”.

“Os filhos devem ter seus direitos a afeto e convivência respeitados, independente do que agrade ou não, ou que seja confortável ou não aos adultos ao redor. Muitas vezes, a criança e o adolescente tornam-se peões na batalha conjugal, e ao serem obrigados a escolher um lado produz profundas feridas no seu próprio desenvolvimento enquanto indivíduo. Falta de carinho, falta de comunicação, falta de liberdade”, ela pontua.

“A Disciplina Positiva defende o respeito mútuo, e o cerne do ato da Alienação Parental é justamente desrespeitar as necessidades do filho, tornando-o um objeto a ser manipulado pelo alienador”, observa.

Coparentalidade

A psicóloga e professora Elsa de Mattos, membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, analisa que uma família que passa por um processo de separação vivencia um momento de intensas mudanças. Por isso, é necessário fazer ajustes e reacomodar a dinâmica relacional, em especial as relações parentais e coparentais.

“Após  a  dissolução  conjugal, deixa de existir a relação conjugal e o  que  passa  a  existir  é  o  par  parental,  sendo o sistema coparental composto por ambos os membros do par parental. O sistema coparental é responsável conjuntamente pelo cuidado e proteção dos filhos. A coparentalidade é definida como a relação mantida entre dois adultos – normalmente a mãe e o pai – que partilham a responsabilidade na educação e na prestação de cuidados instrumentais e emocionais a pelo menos uma criança, de modo que ambos os membros do par parental possam participar das diversas atividades dos filhos”, explica.

Uma relação coparental cooperativa pode significar estabilidade nas relações familiares e maior segurança emocional para as crianças. Por outro lado, em uma relação coparental conflituosa, os filhos podem se tornar inseguros e as relações familiares se tornam instáveis, podendo haver “sabotagem das relações parentais, impedimento da convivência, do cuidado, da participação de um ou de outro genitor na vida da criança”.

“A coparentalidade conflituosa também aumenta a probabilidade de a criança apresentar sintomas físicos (psicossomáticos), tais como problemas gástricos, enurese, prisão de ventre e sintomas psicológicos como ansiedade e depressão infantil”, explica Elsa.

Evitar o distanciamento

Assim como a Parentalidade Positiva, a coparentalidade cooperativa pode evitar a Alienação Parental quando desenvolvida após a separação ou divórcio, na medida em que tal prática evita que um dos genitores seja distanciado da rotina dos filhos.

“Nesse caso, as relações familiares se tornam mais flexíveis e harmônicas, possibilitando uma melhor gestão do funcionamento da família e uma diminuição de situações causadoras de estresse para os filhos. A coparentalidade cooperativa fortalece as relações parentais,  pois ela viabiliza o exercício dos papéis parentais por meio da partilha da responsabilidade na educação e na prestação de cuidados instrumentais e emocionais a pelo menos uma criança. Desse modo, quando a relação coparental é fortalecida, não há espaço para a sabotagem de um dos genitores, nem ocorre um distanciamento de um dos genitores da convivência com os filhos. Há uma responsabilização conjunta pelo cuidado e isso implica em maior diálogo entre os pais e menor incidência de conflitos familiares”, afirma.

Ela ainda ressalta que a coordenação parental como forma de solução de conflitos pode contribuir para desenvolver a coparentalidade cooperativa. “A coordenação parental é uma forma de solução de conflitos aplicada a situações de separação e divórcio conflituoso, na qual o par parental não consegue tomar decisões com foco no bem-estar dos filhos”, aponta.

Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM

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